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Entenda como a Selic afeta juros pagos pelo consumidor

Taxa básica de juros do País caiu de 14,25%, em outubro de 2016, para 6,5% em abril deste ano, mas reflexos para o cidadão não são imediatos

selic

O que é a Selic? Por que a taxa de juros dos empréstimos dos consumidores, na prática, é mais alta que a Selic? Para responder a essas perguntas, a FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), entidade a qual é filiado o Sincomercio, explica como a taxa básica de juros definida pelo Banco Central influencia o custo do dinheiro para famílias de distintas classes sociais.

O que é Selic?

Selic é a abreviação de Sistema Especial de Liquidação e Custódia. Na prática, a Selic é a taxa básica de juros do País, ou seja, a taxa que o governo usa para balizar a compra e venda de títulos de curto prazo.

Isso significa que, quando o governo brasileiro precisa de dinheiro, ele recorre aos bancos e paga a eles juros definidos pela taxa Selic para empréstimos de curto prazo. Da mesma forma, o Estado disponibiliza dinheiro com taxas próximas a essa para os bancos quando estes precisam fechar seus caixas no curto prazo (um ou dois dias). Sendo assim, a Selic é uma taxa praticada para empréstimos de menor risco, já que o governo é considerado um bom pagador.

Como é formada a taxa de juros ao consumidor – aquela que vemos na prática?

A Selic se manteve em 14,25% ao ano (a.a.) entre julho de 2015 e outubro de 2016, quando iniciou uma trajetória de queda, até atingir 6,5% a.a. em abril de 2018. Analistas preveem que ela ainda pode baixar ao longo do ano.

No entanto, se você não é um banco, tampouco o governo, nunca passou perto de um crediário com taxas de juros de 14% ou 7% ao ano. Os juros para pessoas físicas começam, em geral, em 20% ao ano para aquisição de veículos, 40% ou 50% a.a. na compra de bens em lojas de departamento e 100% a.a. no crédito pessoal de curto prazo nos bancos. Quando se trata de juros para o cartão de crédito ou cheque especial, os valores podem atingir até 400% ao ano.

Por que essas taxas não caíram na mesma proporção em que a Selic entre 2015 e 2018? A assessoria econômica da FecomercioSP explica que as taxas de juros para o consumidor também caíram, embora ainda sejam altas.

Segundo a Entidade, elas não caem mais porque o governo toma, com prioridade, quase todos os recursos que os bancos disponibilizam. Esse dinheiro não é propriamente dos bancos, mas, sim, dos correntistas que poupam, que deixam seus recursos em instituições financeiras, e estas por sua vez, emprestam ao governo.

Uma vez que o governo toma emprestado boa parte do dinheiro disponível, o que sobra é disputado entre os consumidores. Também estão embutidos no valor dos juros custos como administração da estrutura bancária, o risco de não pagamento (inadimplência), os impostos e, claro, o lucro dos bancos. Esse lucro aumenta conforme cresce a disputa de muitos querendo dinheiro emprestado e poucos recursos para emprestar. É a lei da oferta e da demanda: quando há pouco produto e muita gente querendo, o preço sobe. O juro, portanto, é o “preço” do dinheiro.

Devemos comemorar a queda da Selic, se os juros na prática estão altos?

Para a assessoria econômica da FecomercioSP, sim, pois a queda da Selic afeta, ainda que pouco, as taxas de juros ao consumidor, além de melhorar o ambiente de consumo e produção.

Além disso, quando o governo consegue reduzir os juros mantendo a inflação controlada, o gasto do setor público com juros cai. Isso é importante, pois a dívida pública é alta: 80% do PIB ou R$ 5 trilhões. Cada ponto porcentual de juros significa R$ 50 bilhões ao ano em pagamento de juros.

Se a estrutura de juros dos títulos públicos (vinculada à Selic) cair, caem também os gastos do governo, o que permite ao setor público reduzir sua demanda por dinheiro, seja emprestando dos bancos ou cobrando tributos.

Quando os juros ao consumidor serão baixos no Brasil?

Somente quando a dívida pública cair e o governo gerar superávits fiscais relevantes. Atualmente, o setor público é muito deficitário. Com isso, o Estado brasileiro continua a precisar de muito dinheiro emprestado e espanta os outros clientes que desejam crédito, elevando toda a estrutura de juros.